A teologia cristã é uma teologia da vida

Seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus. Isso significa que temos direitos e deveres de uns para com os outros. Nosso principal direito como seres humanos é o direito à vida. Isso nos leva ao nosso principal dever: preservar a vida do próximo. Afinal, o fato de sermos imagem e semelhança de Deus nos proíbe de maltratarmos e assassinarmos nossos semelhantes: “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado” (Gênesis 9.6).

Esse assunto teológico é importante, pois é a base para que os cristãos sejam contra o aborto. Não é uma simples questão de conservadorismo, mas uma consequência lógica da proibição divina contra a morte de pessoas que foram criadas à sua imagem (Gn 9.6). Além disso, também é possível argumentar com a mesma base teológica contra a pena de morte, visto que a justiça humana é falha e muitos condenados injustamente podem perder a vida. Em suma, a teologia cristã é uma teologia da vida porque Deus nos concedeu a vida.

E o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, deu sua vida pelos humanos pecadores para que os que nEle crerem não morram , mas tenham a Vida Eterna!

Salmo 14: A teologia ateísta

 

 Todos nós fazemos teologia. Todos possuímos nossa própria teologia de vida. Alguns tomam como ponto de partida de que o deus que tudo criou é YAHWEH, descrito na Bíblia, que enviou seu Filho Jesus para resgatar a humanidade pecadora. Outros, contudo, entendem que o mundo que vivemos não passa de uma ilusão, um universo fragmentado que deve retornar à Unidade (O Um) por meio de reencarnações. Também existem aqueles que compreendem um universo sem deus, surgido por um acaso, por motivo algum. Sim, isso também é uma teologia: a teologia do “não há Deus”!

Aos crentes da teologia ateísta o salmista dá o nome de insensatos (v.1), palavra que em hebraico tem o significado não de alguém que simplesmente não acredita em Deus porque foi mal orientada nas verdades bíblicas, mas de alguém que conscientemente decidiu viver longe dos princípios de vida ensinados por Ele.[1] Toda teologia serve de base para nosso modo de viver: atitudes morais, éticas, modo de se relacionar, de perdoar, de amar… A teologia de alguém é a sua cosmovisão, ou visão de mundo, e alguém que decidiu não olhar o mundo pela visão de Deus está certamente perdida. Por isso, o salmo 14 (que não é um lamento comum de um israelita) chama de insensato quem não acredita em Deus, pois sem uma teologia correta, nossas escolhas diárias podem ser completamente erradas.

Neste momento, alguém que se diz crente pode estar se gabando de não ser um tolo segundo as ideias do salmista, simplesmente porque está identificado na sociedade como um cristão ou como alguém que tem fé em um deus. Contudo, o autor dessa poesia não estava pensando só nos que se declaram ateus, mas também naqueles que agem como se o modo de ver o mundo e de viver sua vida estivesse pautado numa teologia incorreta, isto é, de que Deus não existe. Você pode pensar e dizer que acredita na teologia cristã, mas, ainda assim, viver uma teologia ateísta, onde todas as suas atitudes são executadas sem considerar os princípios de Cristo. Quantos cristãos não conhecemos que, ao saírem dos templos nos finais de semana, são corruptos, intolerantes, indiferentes, violentos, sem autocontrole, preconceituosos, fofoqueiros e tantas outras coisas que não condizem com uma teologia de fato cristã. Na teoria são cristãos, na prática são ateus.

Talvez alguns ateus protestem, dizendo que praticar coisas erradas não tem nenhuma ligação com a visão de um mundo sem Deus. Eu terei de concordar que muitas pessoas que não possuem uma religião promovem boas ações, mas devo explicar que minha intenção é apontar para o fato de que uma teologia de fato cristã é formada por princípios pautados na bondade, na justiça e no amor de Deus[2], o que faz com que qualquer um que de fato acredite nEle tenha atitudes que reflitam essa teologia. Contudo, uma teologia ateísta não possui um padrão ou uma fonte definida para uma moral e ética padronizadas, o que faz com que essa cosmovisão seja mais frágil e menos consistente, já que está completamente aberta e livre de princípios e doutrinas específicas.

A lição devocional do salmo, portanto, é a de que viver sem Deus (ou como se Deus não existisse) pode nos tornar pessoas perdidas, sem rumo e sem amor:

O insensato diz no seu coração: Deus não existe. Todos se corrompem e praticam abominações; não há quem faça o bem” (v.1).


[1] KIDNER, 1980, p.95; BRUCE, 2000, p.776.

[2] É claro que isso é uma síntese muito pequena.

Salmo 13: A teologia do esquecimento de Deus

Assim como o rei Davi, muitas vezes sentimos como se Deus tivesse se esquecido de nós. E nos perguntamos: “Até quando, Senhor? Tu te esquecerás de mim para sempre? Até quando esconderás o rosto de mim?” (v.1). Questionamos a Deus pelo fato de nos sentirmos perdidos, sem saber o que fazer, enfraquecidos pelos nossos inimigos. Nada parece dar certo, nada de novo acontece e já podemos ver os inimigos zombando de nós pela derrota.

Sabemos que Israel era uma nação que vivia em guerra, colecionando diversos inimigos no decorrer da história. Contudo, ainda que os salmistas se dirijam aos seus inimigos humanos, desejando a derrota deles, os cristãos sabem que a ordem de Jesus é de amar os inimigos (Mateus 5.43-48). Por isso, não trataremos da palavra “inimigo” do v.4 como um inimigo humano, pois devemos amá-lo. Antes, voltemos nossa atenção para os inimigos que mantemos vivos dentro de nós: preguiça, orgulho, ambição, egoísmo, indiferença, ódio, desamor, falta de perdão e misericórdia etc. Quantas vezes não sentimos que estamos sendo dominados por esses inimigos? Nossos sentimentos e pensamentos mais sombrios parecem nos atacar e zombar de nós. Oramos a Deus, mas parece que nada muda: “Até quando, Senhor?”.

Talvez esse salmo e essa reflexão se encaixem para alguns numa situação mais cotidiana, como dificuldade financeira, sofrimentos físicos ou uma oração não respondida, na qual muitas vezes não vemos uma ação ou direção vindas de Deus. Mas quero falar com aqueles que hoje enfrentam um silêncio estranho de Deus, enquanto sua vida parece sufocada pelos seus inimigos mais íntimos: seus próprios pecados! Estas palavras, que não tem intenção de resolver seus problemas (nenhuma devocional diária tem essa intenção!), são direcionadas a você que está angustiado e sufocado por ainda possuir tantos pensamentos e sentimentos pecaminosos.

 “Até quando relutarei dia após dia, com tristeza em meu coração? Até quando o meu inimigo (eu mesmo) se exaltará sobre mim?” (v.2).

Nós nos perguntamos “até quando eu continuarei assim: cedendo aos meus inimigos interiores? Deus me ajude!”. A verdade é que, honestamente e humildemente, não tenho respostas prontas para explicar o aparente esquecimento de Deus. Mas é fato que diversos personagens bíblicos e também modernos viveram a mesma situação. E, ainda que você se sinta triste e desanimado, o salmista deixa uma dica de esperança, mesmo diante de tamanho desespero: ainda que Deus esteja em silêncio, confie na misericórdia dEle e se alegre na salvação e no livramento que Ele certamente te dará em breve. Continue fiel a Deus, pois enquanto você sente que Ele não te escuta, sua bondade ainda está sobre você:

Mas eu confio na tua misericórdia; meu coração se alegra na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porque ele me tem feito muito bem” (v.5-6).